Reimplante de mão em Blumenau

Braian Henrique da Silva Freire teve a mão direita 

amputada em um acidente de trabalho


A mão direita de Braian Henrique da Silva Freire, 18 anos, repousa em cima de um travesseiro do Hospital Santo Antônio, em Blumenau. Ele olha o membro cheio de ataduras e pede para que todos no quarto prestem atenção. Em poucos segundos, o jovem mexe, bem devagar, os cinco dedos. Um sorriso largo toma conta da face do jovem, orgulhoso.

O movimento simples representa uma vitória. Braian teve a mão direita amputada em um acidente de trabalho, terça-feira da semana passada, enquanto limpava uma máquina usada para triturar plástico. Por conta da ajuda de colegas e do atendimento médico imediato, a mão pôde ser reimplantada em uma cirurgia que durou cerca de três horas. O procedimento, pouco comum, foi o primeiro feito no hospital.
Braian trabalhava havia menos de um mês em uma empresa do Bairro Fortaleza Alta. Foi contratado para atuar em outros maquinários mas, atendendo a pedidos, foi limpar a que triturava plástico.

A máquina estava desligada, mas quando colocou a mão na área onde havia a lâmina, ela ligou. Ao retirar o braço, viu que a mão tinha sido cortada na altura do punho.

— Fiquei desesperado, todo mundo ficou paralisado, doía muito — lembra.

Colega de Braian prestou os primeiros-socorros

Aos gritos, um colega de trabalho que fazia parte da Comissão Interna de Prevenção a Acidentes (Cipa) tirou a camiseta e orientou Braian a estancar o sangue.

O colega de Braian pegou a mão amputada e a colocou dentro de um plástico, que em seguida pôs em outro plástico com gelo.

O Samu foi chamado e Braian foi levado para o hospital. O procedimento cirúrgico para reimplante foi feito ainda na terça-feira.

— Eu sentia muita dor, o pessoal tentava me acalmar, mas eu não conseguia, só dizia que tinha perdido minha mão. Estava desesperado, até tratei mal o pessoal do Samu — conta.

De acordo com o médico responsável pela cirurgia, o ortopedista e cirurgião de mãos Filipe Pimont Berndt, a cirurgia foi rápida. Depois de religar tendões e demais estruturas, a mão e parte do braço foram imobilizadas. Ele ficou internado, mas não precisou ir para a UTI.

Na sexta-feira, começou a perceber os primeiros sinais de recuperação:

— Mexi dois dedos, a mão formigava. Fiquei muito aliviado.

Berndt afirma que a pouca idade de Braian está ajudando na rápida recuperação. Mas ele destaca que ainda há um longo caminho.

O rapaz terá que passar por outras cirurgias, fazer fisioterapia por até três anos e terá limitações. A sensibilidade ficará reduzida e alguns movimentos do punho não poderão ser feitos porque a lâmina cortou parte dos ossos da área.

— O sucesso do procedimento será visto em longo prazo. Até agora, está tudo indo muito bem. Ele terá limitações, mas terá uma vida bem melhor do que se não tivesse o membro — explica o médico.

O ortopedista salienta, ainda, que em casos como este, o certo é pegar a parte amputada, embrulhá-la em gazes embebidas com soro, colocar em um saco plástico e em um recipiente com gelo e seguir imediatamente para o hospital mais próximo.

Deve-se tomar cuidado para não colocar o membro amputado em contato com o gelo, que vai prejudicar o procedimento de reimplante.

Braian permanece internado. A previsão do médico é liberá-lo ainda esta semana. Mas ele não tem pressa em ir para casa:

— Fico aqui o tempo que precisar. Faço qualquer coisa para ter certeza que ficarei bem.

O procedimento

:: Um colega de trabalho tirou a blusa para estancar o sangramento
:: A mão foi colocada em um plástico e em outro com gelo
:: O plástico com a mão foi colocado em outro saco plástico, com gelo
:: Braian foi levado para o hospital
:: Os médicos trabalharam cerca de três horas para reimplantar a mão
:: Foi necessário religar tendões e imobilizar parte do braço
:: Dois dias depois da cirurgia, o paciente começou a mexer dois dedos
:: Ele deve passar por outras cirurgias
:: Parte do movimento do punho será perdida e a sensibilidade da mão, reduzida

Entrevista: "Cada dedo da gente é muito importante"

Braian Henrique da Silva Freire, de 18 anos, nasceu no Paraná, mas vive em Blumenau desde a infância. Trabalhava havia menos de um mês na empresa onde houve o acidente. Nos primeiros dias depois da cirurgia de reimplante, não acreditava que voltaria a ter a mão direita. Agora, vendo a melhora, ele brinca com todos, faz piada e garante: vai tomar muito mais cuidado com a vida.

Qual foi a primeira reação ao ver que você tinha perdido a mão?

Freire – Fiquei desesperado. Gritava porque estava assustado e com dor. Doía muito, muito mesmo. Até tratei mal o pessoal do Samu, que veio me socorrer. Todos tentavam me acalmar, mas eu lembro que dizia que não podia porque tinha perdido minha mão.

Como foram os primeiros dias após a cirurgia?

Freire – Eu chorava bastante, tinha muito medo de que perderia a mão. Sangrou bastante também, assim de lavar o colchão. Isso nos dois primeiros dias. Sexta-feira, quando mexi dois dedos, fiquei aliviado e comecei a acreditar que iria dar certo. Até então eu não acreditava.

Você conversou com o colega que lhe ajudou na hora do acidente?

Freire – Ele veio aqui me visitar, conversamos bastante. Sou grato a ele e a toda a equipe médica que cuidou de mim. Foi Deus que guiou a mão dos médicos para que eu pudesse ter minha mão de volta.

E daqui para a frente, o que vai mudar na sua vida?

Freire – Vou ter muito mais cuidado comigo mesmo, a minha mão direita vai ser especial. Agora eu sei que cada dedo tem o seu valor.

Fonte: Diário Catarinense


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